Viver esses poucos anos neste mundo me tem sido uma
experiência apaixonante. Amo ser um humano. Gosto de existir. Cada dia, a cada
sabor que os momentos trazem, vejo-me mais seduzido pelas possibilidades de ser
quem eu posso ser, ainda. Mesmo quando mergulho nas minhas memórias mais
escuras e plenas de ambiguidades, ainda aí e nelas encontro a certeza de que,
sendo quem sou e carregando as emoções humanas que carrego, teria sido quase
impossível existir de outro modo. Nesse caso, o milagre da conversão é ainda
mais profundo, pois, se assim é, conversão não é apenas uma mudança de
história, mas, sobretudo, a invasão da Graça Divina, penetrando as teias de
nossa intimidade e nos fazendo desabrochar de dentro para fora, não para uma
outra existência, mas para o melhor de nossa possibilidade existencial, levando
em consideração quem somos. E o que somos renasce com a graça de Deus, fazendo com que
nossa vida encontre em Cristo a melhor variável de nós mesmos. E esta é a vida
que vale ser, pois é vida Nele. Percebo que lateja em mim uma paixão constante.
Com ela tenho passado pela cadeia dos momentos que formam minhas horas, dias,
semanas, meses e anos. Disse minhas experiências, fazendo alusão ao tempo, pois
cada pessoa tem o seu tempo. E os mais felizes são os que sabem que o tempo é
nosso, não de Deus. O tempo é dádiva divina aos mortais. É essa paixão de viver
que me dá esse fortíssimo sentimento de que o tempo é meu. Mesmo me vendo como
um cristão que crê na imortalidade da existência espiritual, ainda assim trato
esta dimensão como única, pois ela vai acabar. Ainda que eu viva para sempre,
vou morrer, contingencialmente, como cidadão da Terra, daí minha sôfrega paixão
pela experiência consciente que Deus me deu conhecer neste lapso da existência
cósmica. É a vida movida por paixão o que nos arremete ao mundo como uma dádiva
divina, mesmo nos dias de nossos equívocos. É também essa paixão que nos põe no
único espaço onde o medo de existir se desvanece: o chão do amor. Quando se
chega a esse lugar existencial, percebe-se que dele se pode ver o perigo de
existir, mas descobre-se também que nele a vida não conhece infelicidade, mesmo
quando dói, pois nesse lugar a vida é pura celebração, vez que o verdadeiro
amor nos liberta de toda culpa e nos põe a salvo de todo medo. Eu sei que viver
assim é fascinantemente assustador para os que assistem a tal vida em seus
processos. Dessa forma, coletam-se amores, devoções, imitadores e patrocinadores.
Mas também surgem os aduladores, os traidores, os invejosos, os inimigos
gratuitos de toda liberdade conquistada pelo amor e pela graça. É neste ponto
da existência que eu me sinto hoje. A tentação agora é fazer opção por um dos
lados. Se me dedico aos primeiros, vivo para a mediocridade que se alimenta de
fantasias. Se me entrego ao segundo grupo, passo a existir para manter um poder
que não me foi dado pela força, mas pela graça do amor e que pode sutilmente se
converter em poder satânico, que é aquele que existe para se proteger e para
exercer controle, fruto do medo de perder o que tem. Prefiro morrer hoje a me
entregar a qualquer desses dois grupos. Meu compromisso com minha própria
consciência é o de perseguir novas possibilidades de ser em Deus, pois de uma
coisa estou certo: bondade e misericórdia me seguirão todos os dias de minha
vida e habitarei na casa do Senhor para todo o sempre. Sou feliz, mesmo quando
não estou feliz. Afinal, depois de tudo, eu pude perceber que felicidade só
existe como a possibilidade de ser, a cada dia, em Deus e em Seu amor. Assim,
sem escusas ou máscaras eu confesso quem sou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário