terça-feira, 15 de dezembro de 2015

A ARTE DE VIVER




Viver esses poucos anos neste mundo me tem sido uma experiência apaixonante. Amo ser um humano. Gosto de existir. Cada dia, a cada sabor que os momentos trazem, vejo-me mais seduzido pelas possibilidades de ser quem eu posso ser, ainda. Mesmo quando mergulho nas minhas memórias mais escuras e plenas de ambiguidades, ainda aí e nelas encontro a certeza de que, sendo quem sou e carregando as emoções humanas que carrego, teria sido quase impossível existir de outro modo. Nesse caso, o milagre da conversão é ainda mais profundo, pois, se assim é, conversão não é apenas uma mudança de história, mas, sobretudo, a invasão da Graça Divina, penetrando as teias de nossa intimidade e nos fazendo desabrochar de dentro para fora, não para uma outra existência, mas para o melhor de nossa possibilidade existencial, levando em consideração quem somos. E o que somos  renasce com a graça de Deus, fazendo com que nossa vida encontre em Cristo a melhor variável de nós mesmos. E esta é a vida que vale ser, pois é vida Nele. Percebo que lateja em mim uma paixão constante. Com ela tenho passado pela cadeia dos momentos que formam minhas horas, dias, semanas, meses e anos. Disse minhas experiências, fazendo alusão ao tempo, pois cada pessoa tem o seu tempo. E os mais felizes são os que sabem que o tempo é nosso, não de Deus. O tempo é dádiva divina aos mortais. É essa paixão de viver que me dá esse fortíssimo sentimento de que o tempo é meu. Mesmo me vendo como um cristão que crê na imortalidade da existência espiritual, ainda assim trato esta dimensão como única, pois ela vai acabar. Ainda que eu viva para sempre, vou morrer, contingencialmente, como cidadão da Terra, daí minha sôfrega paixão pela experiência consciente que Deus me deu conhecer neste lapso da existência cósmica. É a vida movida por paixão o que nos arremete ao mundo como uma dádiva divina, mesmo nos dias de nossos equívocos. É também essa paixão que nos põe no único espaço onde o medo de existir se desvanece: o chão do amor. Quando se chega a esse lugar existencial, percebe-se que dele se pode ver o perigo de existir, mas descobre-se também que nele a vida não conhece infelicidade, mesmo quando dói, pois nesse lugar a vida é pura celebração, vez que o verdadeiro amor nos liberta de toda culpa e nos põe a salvo de todo medo. Eu sei que viver assim é fascinantemente assustador para os que assistem a tal vida em seus processos. Dessa forma, coletam-se amores, devoções, imitadores e patrocinadores. Mas também surgem os aduladores, os traidores, os invejosos, os inimigos gratuitos de toda liberdade conquistada pelo amor e pela graça. É neste ponto da existência que eu me sinto hoje. A tentação agora é fazer opção por um dos lados. Se me dedico aos primeiros, vivo para a mediocridade que se alimenta de fantasias. Se me entrego ao segundo grupo, passo a existir para manter um poder que não me foi dado pela força, mas pela graça do amor e que pode sutilmente se converter em poder satânico, que é aquele que existe para se proteger e para exercer controle, fruto do medo de perder o que tem. Prefiro morrer hoje a me entregar a qualquer desses dois grupos. Meu compromisso com minha própria consciência é o de perseguir novas possibilidades de ser em Deus, pois de uma coisa estou certo: bondade e misericórdia me seguirão todos os dias de minha vida e habitarei na casa do Senhor para todo o sempre. Sou feliz, mesmo quando não estou feliz. Afinal, depois de tudo, eu pude perceber que felicidade só existe como a possibilidade de ser, a cada dia, em Deus e em Seu amor. Assim, sem escusas ou máscaras eu confesso quem sou.